quinta-feira, 15 de janeiro de 2009


Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

Ferreira Gullar

3 comentários:

  1. Oi Nanda,

    Gullar é um autor de responsa! Um dos meus mestres na arte da escrita,

    parabenizo-a pela bela escolha desse poema!

    (vc tá ficando boa nisso, minina, casando superbem figura com texto)

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  2. Oi Feia,

    preciso te agradecer por ter encontrado uma linda amiga como essa daí,sempre gostei muito de vc e adorei este blog, vou te seguir, bjs!

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